segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A ARTE COMO CHAMARIZ E INCENTIVO À EDUCAÇÃO.

         Como profissional do campo da moda e design, e com extrema afinidade pela arte, sendo também professora de artes e artesanato, escrevo esse texto inspirada na paixão sobre o assunto. O blog está inserido nesse universo de cultura e arte, então é pertinente tocarmos nesse assunto por aqui sempre que possível. 

          Ao longo da história temos diversas demonstrações de como o ser humano se mostra pela arte, podemos dizer muito sobre determinada época somente analisando suas produções artísticas. Expressam-se sentimentos e anseios de uma época pela arte, tanto no que é retratado (guerras, fome, belas mulheres, campos silvestres, etc...) quanto no modo como é retratado (pinceladas disformes e coloridas, formas curvilíneas e com extrema leveza, tons escuros, tons claros, etc..). Sendo assim, podemos perceber o quanto este elemento é intrínseco a natureza humana e o quanto ele é um chamariz para o pensamento e questionamento, pois criar, fazer arte é expressar-se sobre o mundo a sua volta, colocar um pouco (ou muito) de si em uma forma de opinião que pode usar palavras em poemas, prosas, crônicas, ou que dispensa palavras como na pintura e escultura.

          A sociedade e suas diferenças muitas vezes excluem e dificultam as relações entre diferentes classes sociais, e a arte vem a ser um intercâmbio entre esses diversos setores sociais, bem como um poderoso catalisador de conhecimentos, estimulando o interesse dos estudantes na aprendizagem.

A ARTE E SUA RELEVÂNCIA NA FORMAÇÃO DO ESTUDANTE.

          Sendo a arte uma forma de expressão livre, deve-se estimular o interesse dos estudantes a conhecê-la, que sintam que ela além um escape, é um espaço onde possam mostrar seus anseios e visões de mundo e que assim, entendendo a arte, ele possa aprender com ela, observando suas características ao longo da história humana, se incluindo nela, e assim sentir-se como parte de mais uma etapa na construção do mundo.

          Observa-se que a Arte vem sendo tratada, na maioria das escolas brasileiras, como suporte para as demais disciplinas que compõe o quadro curricular, fato que acaba negando o seu caráter específico enquanto área do conhecimento humano. Fusari (1992, p. 16). Sabemos que o ensino de qualidade consiste em que o aluno não apenas aprenda mecanicamente, e sim que o conhecimento seja retido, então a arte desempenha um papel fundamental nesse contexto, o inserindo na história que aprende e na sociedade em que se encontra, e o estimula a conhecer e aprender sobre acontecimentos passados que tanto influenciaram gerações anteriores e se manifestam através da arte.

          Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (1997, p. 15), logo na apresentação da proposta do volume 6, das séries iniciais do Ensino Fundamental, destinado à Área Curricular Arte, diz que: “A educação em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que caracteriza um modo particular de dar sentido às experiências das pessoas: por meio dele, o aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação.”

        Duarte Júnior (1991) classifica a Arte através de três dimensões: a sociocultural, que aponta o pensamento artístico como causa da preservação da cultura de um determinado grupo social num determinado tempo; a dimensão currículo-escolar, na qual a arte como área específica leva o aluno a estabelecer conexões com outras disciplinas do currículo - a Geografia e a História, por exemplo; e a dimensão psicológica, que observa a educação em arte como promotora de um pensamento capaz de fazer com que o indivíduo possa relacionar-se com outros levando em conta uma maior afetividade, além do desenvolvimento da criatividade. O educador deve comprometer-se com o aprendizado do aluno, e não apenas verbalizar conteúdos em sala de aula. A falta de materiais que lhe auxiliariam no processo pedagógico é outro fator que dificulta a prática discente, principalmente no campo da arte, porém vale muito a pena, e nessas situações cabe ao professor buscar alternativas para o aprendizado dos alunos, pois o mais importante é que o aluno possa obter os saberes que necessitam para a sua formação humana e o exercício de sua cidadania. E um professor comprometido com sua missão de educador deve estar preparado para as adversidades que possam surgir no âmbito educacional.

          Segundo Andréa Valente, a arte é um tipo de conhecimento que envolve tanto a experiência da apropriação de produtos artísticos, quanto o desenvolvimento da competência de configurar significações por meio da realização de formas artísticas, pois ao fazer e conhecer arte o aluno percorre trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos específicos sobre sua relação com o mundo, desenvolvendo potencialidades como percepção, observação, imaginação e sensibilidade tanto ao realizar formas artísticas quanto na ação de apreciar e conhecer formas produzidas por ele e pelos colegas.  Sendo assim, é uma forma de estimular a mente à formação de opinião e agregar conhecimentos sobre a sociedade em que está inserido e sobre acontecimentos históricos.

          Fusari (1992, p. 69) ao tratar sobre a seleção de conteúdos em Arte e, principalmente da postura do professor, evidencia que “para desenvolver um bom trabalho de Arte o professor precisa descobrir quais são os interesses, vivências, linguagens, modos de conhecimento de arte e práticas de vida de seus alunos”. A missão de educar sempre foi algo especial, e nos dias de hoje tem se tornado cada vez mais necessária para a sociedade, objeto de estudo por diversos profissionais deve ser encarada como algo sério e que exige comprometimento por parte dos educadores, fazendo despertar nos alunos o interesse na real aprendizagem, e o ensino de artes, seja ela pintura, música, escultura, poesia, ajuda muito no interesse e participação do aluno.
 
          Andréa Valente cita também que a partir de observações, passou-se a utilizar a Arte como eixo das disciplinas de História, Geografia, Ciências e Português, levando os alunos a vivenciarem na prática a teoria da sala de aula. Após a contextualização da teoria, utilizou-se dramatizações, produção musical, confecção de trabalhos manuais relacionados ao conteúdo exposto e percebeu-se que o entendimento e aprendizado pelos alunos era muito mais significativo. Pois como já citei, os estudantes passam a sentir-se parte da época em que vivem, observando mais o mundo e a época em que vivem, identificando como as expressões artísticas influenciaram e dizem tanto sobre gerações passadas, segundo Costa (2004), o mundo das imagens, dos sons, do movimento e das cores, impera, mexendo com os sentidos, trabalhando as emoções. O “fazer artístico” está em todos os lugares e situações; relaciona-se intimamente à história da humanidade e suas conquistas, à natureza humana e seu simbolismo, à herança cultural dos povos e ao despertar individual das pessoas.


INCLUSÃO SOCIAL

          Tendo a arte tem um caráter muito pessoal que exprime livremente a personalidade e os anseios de quem a cria, tem-se nela um elemento facilitador na inclusão social, pois é uma linguagem universal, não importando classe social, raça ou mesmo idade.

          Além de usá-la no âmbito escolar para efeitos de aprendizagem significativa, é também um excelente método para reintegrar estudantes que estejam afastados ou mesmo parados, e reúne alunos de diferentes classes sociais ajudando no desenvolvimento humano dos mesmos, além de se mostrar um desafio para o educador, que estará exercendo papel fundamental na formação de além de alunos, cidadãos.

          Dayrell (2001) comenta sobre o modelo de escola atual, e enfatiza que ao contrário do que costuma acontecer, o aprendizado deve ocorrer ao aluno enquanto ser social, integrante de uma cultura, uma sociedade, e que ele se sinta livre para permear por todos os setores sendo autêntico.         
[...] os alunos já chegam à escola com um acúmulo de experiências
vivenciadas em múltiplos espaços, através dos quais podem
elaborar uma cultura própria, uns ‘óculos’, pelo qual vêem, sentem
e atribuem sentido e significado ao mundo, à realidade onde se
inserem. Não há, portanto, um mundo real, uma realidade única
preexistente à atividade mental humana (2001, p.141).

          A arte inclui, pois diferentes personalidades, credos, classes sociais se encontram e podem dialogar de uma forma mais aberta, conhecer suas semelhanças e respeitar suas diferenças, observando isso durante a história da arte também, com suas características referentes às diversas passagens da história humana. Juntos arte e sociedade podem construir um ensino de qualidade e com inclusão social, diminuindo índices de evasão e ajudando a sociedade a crescer como um todo.

          Como o ensino da arte muitas vezes precisa sair do molde em que é proposto atualmente no ensino, ainda é visto por alguns como educação não-formal, porém mesmo assim consiste em uma poderosa ferramenta de aprendizagem nas demais matérias bem como na formação social. Como ressalta Valéria Diniz, o espaço ainda recente – da educação não formal pauta-se, de modo geral, pela preocupação com populações excluídas e em situação de risco e por uma pedagogia que privilegia o viés da cultura e da arte. Dialogar com tal universo poderá propiciar uma visão mais ampla do ato educacional, engendrar a utilização de práticas pedagógicas diferenciadas, bem como um saudável diálogo com outras instâncias de educação, especialmente a escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

          Como pudemos observar, o ensino de artes é ferramenta importantíssima na construção de uma aprendizagem de qualidade, bem como abre portas para criatividade e construção do “ser” de cada aluno, o fazendo pensar e questionar-se sobre mundo em que vive bem como observar o passado da história humana de forma mais fácil e didática, aguçando o interesse pelo aprendizado. Além dos benefícios educacionais a arte também é fator relevante na inclusão social bem como pode influenciar muito na redução de evasão escolar e propiciar a reintegração de alunos por intermédio da mesma. 

          Deve-se dar mais importância e subsídio ao ensino de artes nas escolas bem como incentivar os professores a usar essa ferramenta que lhes trará uma gama de possibilidades junto aos seus alunos. O ensino de artes deve ultrapassar os limites da sala de aula, e nesta de mostrar mais atuante e importante, não apenas sendo com uma disciplina “menos importante” e sim como uma que serve de base para as demais podendo influenciar de forma determinante no aprendizado qualitativo dos estudantes.



REFERENCIAS

DUARTE JÚNIOR, João Francisco. Porque Arte-Educação? 6. ed. – Campinas, SP: Papirus, 1991;
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Volume 6 - Brasília: MEC/SEF, 1997.
COSTA, Cristina. Questões de Arte. 2.ed.reform. São Paulo: Moderna, 2004.
MELANDA, Andréa Valente. A INFLUÊNCIA DA ARTE NO CONTEXTO ESCOLAR. Artigo.
FUSARI, Maria Felisminda de Rezende e. FERRAZ, Maria Heloísa Corrêa de Toledo. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992.

DINIZ, Valéria Toledo. INCLUSÃO SOCIAL E ARTE NA EDUCAÇÃO NÃOFORMAL: a experiência do Instituto Arte no Dique. Artigo