Como profissional do campo da moda e design, e com extrema afinidade pela arte, sendo também professora de artes e artesanato, escrevo esse texto inspirada na paixão sobre o assunto. O blog está inserido nesse universo de cultura e arte, então é pertinente tocarmos nesse assunto por aqui sempre que possível.
Ao longo da história temos diversas
demonstrações de como o ser humano se mostra pela arte, podemos dizer muito
sobre determinada época somente analisando suas produções artísticas. Expressam-se
sentimentos e anseios de uma época pela arte, tanto no que é retratado
(guerras, fome, belas mulheres, campos silvestres, etc...) quanto no modo como
é retratado (pinceladas disformes e coloridas, formas curvilíneas e com extrema
leveza, tons escuros, tons claros, etc..). Sendo assim, podemos perceber o
quanto este elemento é intrínseco a natureza humana e o quanto ele é um
chamariz para o pensamento e questionamento, pois criar, fazer arte é
expressar-se sobre o mundo a sua volta, colocar um pouco (ou muito) de si em
uma forma de opinião que pode usar palavras em poemas, prosas, crônicas, ou que
dispensa palavras como na pintura e escultura.
A sociedade e suas diferenças muitas
vezes excluem e dificultam as relações entre diferentes classes sociais, e a
arte vem a ser um intercâmbio entre esses diversos setores sociais, bem como um
poderoso catalisador de conhecimentos, estimulando o interesse dos estudantes
na aprendizagem.
A ARTE
E SUA RELEVÂNCIA NA FORMAÇÃO DO ESTUDANTE.
Sendo a arte uma forma de expressão
livre, deve-se estimular o interesse dos estudantes a conhecê-la, que sintam que
ela além um escape, é um espaço onde possam mostrar seus anseios e visões de
mundo e que assim, entendendo a arte, ele possa aprender com ela, observando
suas características ao longo da história humana, se incluindo nela, e assim
sentir-se como parte de mais uma etapa na construção do mundo.
Observa-se que a Arte vem sendo tratada, na
maioria das escolas brasileiras, como suporte para as demais disciplinas que
compõe o quadro curricular, fato que acaba negando o seu caráter específico
enquanto área do conhecimento humano. Fusari (1992, p. 16). Sabemos que o
ensino de qualidade consiste em que o aluno não apenas aprenda mecanicamente, e
sim que o conhecimento seja retido, então a arte desempenha um papel
fundamental nesse contexto, o inserindo na história que aprende e na sociedade
em que se encontra, e o estimula a conhecer e aprender sobre acontecimentos
passados que tanto influenciaram gerações anteriores e se manifestam através da
arte.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais
(1997, p. 15), logo na apresentação da proposta do volume 6, das séries
iniciais do Ensino Fundamental, destinado à Área Curricular Arte, diz que: “A educação
em arte propicia o desenvolvimento do pensamento artístico, que caracteriza um
modo particular de dar sentido às experiências das pessoas: por meio dele, o
aluno amplia a sensibilidade, a percepção, a reflexão e a imaginação.”
Duarte Júnior (1991) classifica a Arte
através de três dimensões: a sociocultural, que aponta o pensamento artístico
como causa da preservação da cultura de um determinado grupo social num
determinado tempo; a dimensão currículo-escolar, na qual a arte como área específica
leva o aluno a estabelecer conexões com outras disciplinas do currículo - a
Geografia e a História, por exemplo; e a dimensão psicológica, que observa a
educação em arte como promotora de um pensamento capaz de fazer com que o
indivíduo possa relacionar-se com outros levando em conta uma maior
afetividade, além do desenvolvimento da criatividade. O educador deve
comprometer-se com o aprendizado do aluno, e não apenas verbalizar conteúdos em
sala de aula. A falta de materiais que lhe auxiliariam no processo pedagógico é
outro fator que dificulta a prática discente, principalmente no campo da arte,
porém vale muito a pena, e nessas situações cabe ao professor buscar
alternativas para o aprendizado dos alunos, pois o mais importante é que o
aluno possa obter os saberes que necessitam para a sua formação humana e o
exercício de sua cidadania. E um professor comprometido com sua missão de
educador deve estar preparado para as adversidades que possam surgir no âmbito
educacional.
Segundo Andréa Valente, a arte é um
tipo de conhecimento que envolve tanto a experiência da apropriação de produtos
artísticos, quanto o desenvolvimento da competência de configurar significações
por meio da realização de formas artísticas, pois ao fazer e conhecer arte o aluno
percorre trajetos de aprendizagem que propiciam conhecimentos específicos sobre
sua relação com o mundo, desenvolvendo potencialidades como percepção,
observação, imaginação e sensibilidade tanto ao realizar formas artísticas
quanto na ação de apreciar e conhecer formas produzidas por ele e pelos colegas.
Sendo assim, é uma forma de estimular a
mente à formação de opinião e agregar conhecimentos sobre a sociedade em que
está inserido e sobre acontecimentos históricos.
Fusari (1992, p. 69) ao tratar sobre
a seleção de conteúdos em Arte e, principalmente da postura do professor,
evidencia que “para desenvolver um bom trabalho de Arte o professor precisa
descobrir quais são os interesses, vivências, linguagens, modos de conhecimento
de arte e práticas de vida de seus alunos”. A missão de educar sempre foi algo
especial, e nos dias de hoje tem se tornado cada vez mais necessária para a
sociedade, objeto de estudo por diversos profissionais deve ser encarada como
algo sério e que exige comprometimento por parte dos educadores, fazendo
despertar nos alunos o interesse na real aprendizagem, e o ensino de artes,
seja ela pintura, música, escultura, poesia, ajuda muito no interesse e
participação do aluno.
Andréa Valente cita também que a partir
de observações, passou-se a utilizar a Arte como eixo das disciplinas de
História, Geografia, Ciências e Português, levando os alunos a vivenciarem na
prática a teoria da sala de aula. Após a contextualização da teoria,
utilizou-se dramatizações, produção musical, confecção de trabalhos manuais
relacionados ao conteúdo exposto e percebeu-se que o entendimento e aprendizado
pelos alunos era muito mais significativo. Pois como já citei, os estudantes
passam a sentir-se parte da época em que vivem, observando mais o mundo e a
época em que vivem, identificando como as expressões artísticas influenciaram e
dizem tanto sobre gerações passadas, segundo Costa (2004), o mundo das imagens,
dos sons, do movimento e das cores, impera, mexendo com os sentidos, trabalhando
as emoções. O “fazer artístico” está em todos os lugares e situações; relaciona-se
intimamente à história da humanidade e suas conquistas, à natureza humana e seu
simbolismo, à herança cultural dos povos e ao despertar individual das pessoas.
INCLUSÃO SOCIAL
Tendo a arte tem um caráter muito pessoal
que exprime livremente a personalidade e os anseios de quem a cria, tem-se nela
um elemento facilitador na inclusão social, pois é uma linguagem universal, não
importando classe social, raça ou mesmo idade.
Além de usá-la no âmbito escolar para
efeitos de aprendizagem significativa, é também um excelente método para reintegrar
estudantes que estejam afastados ou mesmo parados, e reúne alunos de diferentes
classes sociais ajudando no desenvolvimento humano dos mesmos, além de se mostrar
um desafio para o educador, que estará exercendo papel fundamental na formação
de além de alunos, cidadãos.
Dayrell (2001) comenta sobre o modelo
de escola atual, e enfatiza que ao contrário do que costuma acontecer, o
aprendizado deve ocorrer ao aluno enquanto ser social, integrante de uma
cultura, uma sociedade, e que ele se sinta livre para permear por todos os
setores sendo autêntico.
[...] os alunos já chegam à escola com um
acúmulo de experiências
vivenciadas em múltiplos espaços, através dos
quais podem
elaborar uma cultura própria, uns ‘óculos’,
pelo qual vêem, sentem
e atribuem sentido e significado ao mundo, à
realidade onde se
inserem. Não há, portanto, um mundo real, uma
realidade única
preexistente à atividade mental humana (2001,
p.141).
A arte inclui, pois diferentes
personalidades, credos, classes sociais se encontram e podem dialogar de uma
forma mais aberta, conhecer suas semelhanças e respeitar suas diferenças,
observando isso durante a história da arte também, com suas características
referentes às diversas passagens da história humana. Juntos arte e sociedade
podem construir um ensino de qualidade e com inclusão social, diminuindo
índices de evasão e ajudando a sociedade a crescer como um todo.
Como o ensino da arte muitas vezes
precisa sair do molde em que é proposto atualmente no ensino, ainda é visto por
alguns como educação não-formal, porém mesmo assim consiste em uma poderosa
ferramenta de aprendizagem nas demais matérias bem como na formação social.
Como ressalta Valéria Diniz, o espaço ainda recente – da educação não formal pauta-se,
de modo geral, pela preocupação com populações excluídas e em situação de risco
e por uma pedagogia que privilegia o viés da cultura e da arte. Dialogar com
tal universo poderá propiciar uma visão mais ampla do ato educacional,
engendrar a utilização de práticas pedagógicas diferenciadas, bem como um
saudável diálogo com outras instâncias de educação, especialmente a escola.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pudemos observar, o ensino de
artes é ferramenta importantíssima na construção de uma aprendizagem de
qualidade, bem como abre portas para criatividade e construção do “ser” de cada
aluno, o fazendo pensar e questionar-se sobre mundo em que vive bem como
observar o passado da história humana de forma mais fácil e didática, aguçando
o interesse pelo aprendizado. Além dos benefícios educacionais a arte também é
fator relevante na inclusão social bem como pode influenciar muito na redução
de evasão escolar e propiciar a reintegração de alunos por intermédio da
mesma.
Deve-se dar mais importância e
subsídio ao ensino de artes nas escolas bem como incentivar os professores a
usar essa ferramenta que lhes trará uma gama de possibilidades junto aos seus
alunos. O ensino de artes deve ultrapassar os limites da sala de aula, e nesta
de mostrar mais atuante e importante, não apenas sendo com uma disciplina
“menos importante” e sim como uma que serve de base para as demais podendo
influenciar de forma determinante no aprendizado qualitativo dos estudantes.
REFERENCIAS
DUARTE JÚNIOR, João Francisco.
Porque Arte-Educação? 6. ed. –
Campinas, SP: Papirus, 1991;
BRASIL. Secretaria de Educação
Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte. Volume 6 - Brasília: MEC/SEF, 1997.
COSTA, Cristina. Questões de Arte. 2.ed.reform. São
Paulo: Moderna, 2004.
MELANDA, Andréa Valente. A INFLUÊNCIA DA ARTE NO CONTEXTO ESCOLAR. Artigo.
FUSARI, Maria Felisminda de
Rezende e. FERRAZ, Maria Heloísa Corrêa de Toledo. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1992.
DINIZ, Valéria Toledo. INCLUSÃO SOCIAL E ARTE NA EDUCAÇÃO NÃOFORMAL: a experiência do
Instituto Arte no Dique. Artigo